A descoberta de uma ferramenta feita de jade de 3,3 mil anos fez com que pesquisadores acabassem descobrindo também um manuscrito perdido do século 20 e um local geoquimicamente extraordinário.
A ferramenta de pedra foi encontrada na ilha de Emirau, no Arquipélago de Bismarck (grupo de ilhas situado ao largo da costa da Nova Guiné), tem cinco centímetros e foi provavelmente usada para esculpir ou arrancar madeira. Parece ter caído de uma palafita, construída em um emaranhado de recife de coral, que pode ter sido eventualmente coberto por areia movediça.
A ferramenta de jade pode ter sido criada pela população Lalita, que apareceu no oeste do Pacífico cerca de 3,3 mil anos atrás, e então se espalhou do Pacífico para o Samoa em algumas centenas de anos, formando uma população ancestral que conhecemos como polinésios.
Ferramentas de jade e machados já foram encontrados nessa área antes, mas o interessante sobre a ferramenta descoberta é o tipo de jade com que ela foi feita: ele parece ter vindo de uma região distante. Talvez os Lapita tenham trazido a pedra de onde se originaram.
Jade é um termo geral para dois tipos de rocha dura – as feitas de jade jadeíta e de outro grupo de jade nefrita. As pedras são de cor esverdeada, mas a jade nefrita é ligeiramente mais abundante, enquanto a jadeíta é mais escassa, encontrada principalmente nas culturas da América Central e México antes da chegada dos europeus.
No Pacífico, jadeíte tão antiga quanto o artefato encontrado é conhecida apenas no Japão e na Coreia. Nunca foi descrito nenhum registro arqueológico na Nova Guiné, local onde foi encontrada a ferramenta.
Pesquisadores do Museu Americano de História Natural estudaram o artefato com micro-difração de raios-X, em busca de estudar a estrutura atômica do objeto, e com isso, os minerais dentro da rocha. A composição da rocha mineral varia de acordo com os produtos químicos que estão no chão quando ela se forma. O resultado é tão específico que pode identificar a origem das rochas.
A jadeíte na rocha descoberta é diferente do tipo encontrado no Japão e na Coreia na época. Faltam certos elementos e outros têm quantidades a mais do que o esperado, portanto, a pedra veio de outra fonte geológica, mas os pesquisadores não têm certeza de onde. A única combinação química como essa que os pesquisadores conheciam estava em uma área do México.
Os pesquisadores não acham provável que pessoas do período Neolítico, que viveram milhares de anos atrás, tenham transportado pedras através do Pacífico, mas não conseguiram encontrar outra explicação para a composição da ferramenta. Bem, até se depararem com um manuscrito alemão do século 20, não publicado.
O autor do manuscrito, C. E. A. Wichmann, coletou algumas curiosas rochas na Indonésia em 1903 – cerca de mil quilômetros do local onde a ferramenta de jade foi encontrada – e as propriedades químicas de seus achados foram relatadas como muito semelhantes a da ferramenta recém-descoberta. Os pesquisadores estão agora investigando essas amostras para ver se as técnicas modernas podem provar que a ferramenta veio da Indonésia.
Os pesquisadores afirmam que se a fonte de jade jadeíte for encontrada, seria “algo geoquimicamente extraordinário”.