Nero comia numa sala de jantar giratória

O salão de banquetes que "rodava perpetuamente dia e noite, imitando o movimento dos corpos celestes", como o descreveu o historiador latino Suetonius, foi descoberto no Palácio Dourado, mandado construir pelo imperador Nero em Roma. O movimento da sala era possível graças a quatro mecanismos de esferas, impulsionados por um constante fluxo de água

A reputação do imperador Nero não é a das melhores: os historiadores do seu tempo descreveram--no como um dos líderes mais cruéis, depravados e megalómanos de Roma, que matou a mãe e o meio-irmão e continuou calmamente a tocar lira enquanto a capital do império ardia. A recente descoberta não vem alterar uma vírgula a esta história, apenas acrescentar uma excentricidade: o imperador de 54 a 68 d.C. tinha um salão de banquetes giratório.

Com quase dois mil anos, a sala foi agora descoberta no topo do monte Palatino, um dos quatro ocupados pelo Domus Aurea (Palácio Dourado) que Nero mandou construir depois do grande incêndio de Roma, em 64 d.C. O salão de banquetes tinha um diâmetro de 16 metros e o pilar que o suporta, quatro metros. A estrutura girava graças ao movimento de quatro mecanismos esféricos, impulsionados por um constante fluxo de água.

"Isto não pode ser comparado a nada do que sabemos da arquitectura romana", disse o arqueólogo Françoise Villedieu, que fez uma visita guiada a um grupo de jornalistas. "O coração de todas as actividades na Roma Antiga era o banquete, junto com alguma forma de entretenimento", disse o responsável pelo Departamento de Arqueologia da capital italiana, Angelo Bottini. "Nero era como o Sol e as pessoas giravam em volta do imperador", acrescentava.

A divisão agora encontrada não era contudo desconhecida, tendo sido descrita por um contemporâneo do imperador. "A principal sala de banquetes era circular e rodava perpetuamente dia e noite, imitando o movimento dos corpos celestes", escreveu o historiador Suetonius, autor da biografia de 12 imperadores. "Todas as salas de jantar tinham tectos adornados com marfim, cujos painéis podiam ser recolhidos e deixar cair uma chuva de flores sobre os seus hóspedes", relatou.

Desta área do palácio, podia apreciar-se uma visão panorâmica do Fórum Romano e um lago, drenado pelos sucessores de Nero que aí construíram o Coliseu. Mas o próprio imperador não apreciou o palácio durante muito tempo. A construção terminou em 68 d.C., ano em que Nero se suicidou após ser derrubado do trono. Os mármores, as jóias e o marfim do Domus Aurea foram retirados do edifício, sobre o qual foram construídos outros espaços. O palácio foi redescoberto no séc. XV.

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